EBD 1 Cristo nasce e traz salvação (Mateus 1,2)
Iniciando nossos estudos neste trimestre, convém reafirmar que estaremos estudando o “Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.” Digo isso porque se tornou prática comum a referência aos Evangelhos como sendo: Evangelho de Mateus, Evangelho de Marcos, Evangelho de Lucas e Evangelho de João. Ao fazermos isso, por vezes deixamos de perceber que o evangelho é de Jesus Cristo.
Sendo evangelho de Jesus Cristo, todos os ensinamentos neles contidos expressam a vontade de Deus revelada por intermédio de Cristo (Hebreus 1.1,2). É com esta consciência que ele deve ser lido, estudado e, sobremodo, obedecido.
A RAZÃO DE SER DA GENEALOGIA DE JESUS CRISTO (1.1-17)
Muitas vezes me perguntam o porquê da inclusão das genealogias nos livros da Bíblia. Alguns até dizem que muito espaço poderia ser economizado se elas fossem suprimidas.
Entretanto, elas são tão importantes que o Novo Testamento – O Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus, especialmente – começa com a genealogia de Jesus. Tal início serve para demonstrar que Jesus Cristo, que é um com Deus (João 10.10) e que é o próprio Deus (Mateus 1.23, João 1), foi também um ser humano com ascendência comprovada pela genealogia.
J. C. Ryle nos apresentou algumas lições importantes sobre a genealogia de Jesus Cristo; são elas:
1) Deus sempre cumpre a sua palavra – Estes versículos nos dão a prova de que Deus cumpriu as suas promessas contidas em Gênesis 12.3 e Isaías 11.1, uma vez que Jesus Cristo era descendente tanto de Abraão quanto de Davi;
2) A pecaminosidade e a corrupção da natureza humana são uma realidade – Na lista dos nomes encontramos pais piedosos que tiveram filhos ímpios. A benção de Deus não é hereditária e ninguém herda relacionamentos; estes precisam ser desenvolvidos, inclusive e principalmente com Deus;
3) Quão grande é a misericórdia e a compaixão de nosso Senhor Jesus Cristo – A misericórdia e a compaixão de Jesus retratam o amor de Deus. Muitos dos que constam na genealogia são anônimos, outros socialmente indignos. Mas todos ligados a Jesus, como seus antepassados.
A genealogia de Jesus Cristo deve sempre nos lembrar o caráter inclusivo do evangelho de Cristo. Nosso Deus não faz acepção de pessoas (Deuteronômio 10.17; Jó 32.21; Atos 10.3; Romanos 2.11). ele nos ordena a tratar a todos sem distinção (Deuteronômio 16.19; Tiago 2.1).
O NASCIMENTO MIRACULOSO DO FILHO DE DEUS (Mateus 1.18-23)
O nascimento de Jesus Cristo é um dos textos mais significativos da Escritura. Sim, porque neste texto nós vislumbramos uma combinação fabulosa. De um lado a intervenção soberana de Deus na história, enviando aquele que é o Salvador da humanidade, que veio esmagar a cabeça da serpente, conforme predito em Gênesis 3.15. por outro lado, esta intervenção se dá através do milagre da gestação, forma que Deus escolheu para continuar a criar homens e mulheres.
Esta narrativa traz alguns enfoques que não podem ser desprezados:
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Nascimento virginal (v.18) – Esta afirmação tem sido mantida nos últimos doois mil anos, e ela deve nos lembrar a pureza e o poder criador do nosso Deus.
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Ação do Espírito Santo (v. 18,20) – O mesmo Espírito que pairava na criação (Gênesis 1.2), que esteve com José no Egito (Gênesis 41.38), que estaria presente no batismo de Jesus Cristo (Mateus 3.16), que selaria todos os salvos por Jesus Cristo (Efésios 4.30), é ele que age na geração do Cristo de Deus. Isso nos mostra a imutabilidade e a continuidade dos planos divinos.
O Espírito Santo de Deus continuará a obra evangélica através da conversão de cada crente (João 16.7-15); ele age na regeneração, produz no homem o nascer de novo e continua agindo na santificação.
O IMPACTO DO NASCIMENTO DE JESUS SOBRE OS MAGOS (Mateus 2.1-12)
A menção aos magos deve ser observada cocm muita atenção. A Bíblia não nos indica a sua nacionalidade. Eles eram magos, orientais pagãos, que foram adorar aquele que seria o rei dos judeus, atraídos por uma estrela. A distância e as dificuldades da viagem não são mencionadas, mas existiram. Eles deixaram tudo por uma oportunidade de adoração.
Precisamos aprender com os magos sobre a capacidade de se deixar guiar por Deus. Precisamos aprender com os magos sobre a urgência de nos apresentarmos diante de Jesus Cristo para adorá-lo. Precisamos aprender com os magos sobre a necessidade de nos distanciarmos do círculo em que vivemos, para nos aproximarmos mais de Jesus Cristo. Precisamos a cada dia ser impactados pelo nascimento de Jesus Cristo e ter a coragem de mudar os nossos caminhos para obedecer a Deus, assim como os magos fizeram.
A REAÇÃO DO REI HERODES, DOS SACERDOTES E DOS ESCRIBAS (Mateus 2.1-12)
A presença de Jesus Cristo no mundo é uma presença transformadora. No primeiro século. Os cristãos alvoroçaram o mundo (Atos 17.6). O rei Herodes, os sacerdotes e os escribas foram incomodados com o nascimento de Jesus Cristo porque isso exigiria deles profundas mudanças estruturais em seus vários sistemas (político, religioso e econômico).
É curioso observarmos como aqueles que teoricamente mais sabiam sobre o Messias o desprezaram quando da sua chegada. O rei Herodes, juntamente com Jerusalém, alarmaram-se (v.3); os sacerdotes e os escribas se perderam em discussões secundárias quanto ao local do nascimento (v.4-7). Por que eles agiram assim? Temiam as transformações que o Messias de Deus traria ao mundo; temiam as profundas mudanças que seriam exigidas deles.
A presença de Jesus Cristo precisa impulsionar mudanças em nosso viver, mudanças em nossa sociedade. Os vários sistemas precisam ser transformados pelo poder de Deus e do seu Cristo. Não podemos buscar legitimar os nossos temores por transformação escudando-nos em autoridades, ainda que políticas, como Herodes, ou religiosas, como os sacerdotes. É preciso transformação, e a Bíblia é, por excelência, o manual das transformações.
A VIDA SIMPLES DO JOVEM JESUS CRISTO EM NAZARÉ (Mateus 2.13-23)
A Bíblia Sagrada fala pouco sobre a infância de Jesus Cristo. Entretanto, estes dez versículos nos trazem algumas informações.
Jesus e sua família precisaram fugir para o Egito a fim de escapar da perseguição do rei Herodes, essa fuga é de particular importância, se considerarmos que os hebreus foram peregrinos no Egito. Agora, o próprio Emanuel – Deus conosco – passava pela mesma experiência. Um novo êxodo nos momentos iniciais da chegada do reino de Deus. Esse êxodo conduzirá o povo à verdadeira terra prometida, à verdadeira libertação.
A profecia referida no versículo 15 será registrada em Oséias 11.1. Quando Deus chamou o seu povo do Egito no Antigo Testamento, estava nascendo uma nova nação, o que nos leva a pensar que quando Deus traz Jesus do Egito, está iniciando a implementação de um novo reino. Ainda hoje, homens e mulheres são chamados do “Egito” para uma nova vida com Deus.
E, finalmente, após a morte do rei Herodes, eles podem retornar. “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmos 30.5). Em toda a história do povo de Deus houve momentos de dificuldades, mas Deus, em sua infinita misericórdia, sempre levantou homens e mulheres em todos os tempos para serem mensageiros de esperança. A morte do rei Herodes era a oportunidade que a família de Jesus esperava para retornar à terra de Israel. Em muitos momentos, estamos chorando nas noites de dificuldades e nos exílios que a vida nos impõe; entretanto, estejamos certos de que pela manhã virá a alegria do Senhor, que é a nossa força (Neemias 8.10), e do “Egito” Deus nos chamará.
CONCLUSÃO
Ao estudarmos sobre o nascimento de Jesus Cristo, devemos nos lembrar que ele propicia o novo nascimento a homens e mulheres que estão mortos em seus delitos e pecados (Efésios 2.1). Isso deve nos inspirar a falar deste evangelho a todos; afinal, Jesus Cristo traz salvação.
Reflitamos sobre algumas questões:
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Qual o impacto que o evangelho de Jesus tem produzido em nossa vida? Temos agido como os magos, procurando seguir a Jesus, ou como o rei Herodes, os sacerdotes e os escribas, sentindo-nos incomodados com as transformações propostas pelo evangelho?
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Como temos influenciados aqueles com os quais convivemos?
J. C. Ryle. Meditações no Evangelho de Mateus. São José dos Campos: Editora Fiel, 1991,p.6,7. Revista Compromisso.